Estamos vivendo uma “epidemia” de autismo?

O Censo revelou 2,4 milhões de autistas no Brasil. Entenda o aumento dos diagnósticos, os direitos garantidos e o impacto financeiro nas famílias

Estamos vivendo uma “epidemia” de autismo?

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Dreamstime - Sergey Novikov

Resumo – O Censo revelou 2,4 milhões de autistas no Brasil. Entenda o aumento dos diagnósticos, os direitos garantidos e o impacto financeiro nas famílias.

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em maio de 2025, os dados do Censo com o primeiro levantamento oficial sobre autismo no Brasil.

Segundo a pesquisa, o país tem hoje 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que representa 1,2% da população.

Em comparação internacional, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, estimou que 1 em cada 31 crianças está no espectro — a maioria do sexo masculino. Vale lembrar que no ano 2000 essa taxa era de 1 em 150 crianças, mostrando como os números cresceram nas últimas décadas.

 

O que explica esse aumento?

Embora os dados impressionem, especialistas alertam que não se trata de uma “epidemia”. O aumento está relacionado principalmente a:

  • Avanço das pesquisas científicas: mais conhecimento sobre o TEA permitiu identificar sinais antes negligenciados.

  • Diagnóstico clínico aprimorado: não há exame laboratorial que comprove o autismo; a avaliação é baseada em observação clínica, o que só se consolidou recentemente.

  • Identificação precoce: segundo o Censo, 3,8% das crianças entre 5 e 9 anos estão no espectro, número próximo ao dos EUA. Na população geral, a prevalência é de 1,2%, revelando que a maioria dos diagnósticos ocorre na infância.

  • Subdiagnóstico em adultos: muitos adolescentes e adultos autistas ainda não foram diagnosticados, apesar de conviverem com a condição.

Autismo sempre existiu?

Sim. O autismo sempre esteve presente, mas no passado era frequentemente confundido com outras condições, como esquizofrenia, deficiência intelectual ou transtorno bipolar.

Pessoas com quadros mais graves muitas vezes eram internadas em hospitais psiquiátricos ou isoladas em casa. Hoje, o cenário é diferente: há maior inclusão nas escolas, no mercado de trabalho e nos espaços públicos.

Muitos adultos passaram a procurar diagnóstico após identificarem comportamentos semelhantes aos dos filhos. Além disso, o maior número de diagnósticos no Sudeste, especialmente em São Paulo, está ligado tanto à concentração populacional quanto ao acesso a especialistas — como neurologistas, psiquiatras e psicólogos.

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Por que o diagnóstico é tão importante?

Embora não exista cura para o autismo, o diagnóstico é essencial para garantir acesso a tratamentos terapêuticos, que podem:

  • reduzir comportamentos disruptivos;

  • estimular o desenvolvimento;

  • aumentar a autonomia e independência do indivíduo.

Além disso, o laudo médico é indispensável para acessar direitos garantidos por lei, já que a OMS reconhece o TEA como uma deficiência sensorial oculta. Entre os direitos das pessoas com autismo estão:

  • Cartão de estacionamento em vagas para deficientes;

  • Prioridade em atendimentos públicos e privados;

  • Acesso a terapias, tratamentos e medicamentos pelo SUS;

  • Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS);

  • Acompanhante especializado em escolas, quando necessário;

  • Carteira de Identificação da Pessoa com TEA (Ciptea);

  • Isenção de impostos na compra de veículos zero km;

  • Gratuidade no transporte interestadual para famílias de baixa renda.

O impacto financeiro do autismo nas famílias

O diagnóstico também tem reflexos diretos na vida financeira das famílias. Uma pesquisa do Instituto PENSI em parceria com a FIPE-USP revelou que famílias com filhos autistas no nível 3 (maior necessidade de suporte) gastam mais que o dobro das famílias típicas.

  • R$ 1.859 mensais per capita: custo adicional médio com terapias, convênio médico, medicação, alimentação especial e outros cuidados.

  • Em uma casa com cinco pessoas, isso pode significar R$ 9.295 a mais por mês em relação a famílias típicas.

  • O impacto chega a 36,5% do orçamento familiar em saúde no nível 3, enquanto famílias com autistas de nível 1 e 2 gastam 21,2%. Entre famílias sem autismo, esse índice é de 12,7%.

Além disso, há o chamado custo implícito: quando um dos responsáveis — quase sempre a mãe — deixa de trabalhar ou reduz a carga horária para cuidar do filho, diminuindo a renda familiar.

👉 Nós já aprofundamos esse tema em outro artigo aqui na Hora do Dinheiro, mostrando em detalhes por que os gastos de famílias com autistas são maiores do que famílias típicas. Vale a leitura para entender melhor como esse impacto acontece na prática: leia aqui.

 

Conclusão

O aumento dos diagnósticos de autismo não significa uma epidemia, mas sim o resultado de maior conhecimento, acesso a especialistas e políticas de inclusão.

O Censo trouxe dados inéditos que podem ajudar a criar políticas públicas mais eficazes, que garantam acesso a diagnóstico precoce, tratamento adequado e suporte financeiro às famílias.

Com informação, inclusão e apoio, é possível oferecer às pessoas autistas melhores condições de desenvolvimento e qualidade de vida.

 

Referências

BBC News Brasil. (2023). 13 dados inéditos sobre autistas e pessoas com deficiência no Censo 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cwl89d8nlr8o

JusBrasil. (2024). 12 direitos que a pessoa com autismo possui. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/90765/12-direitos-que-a-pessoa-com-autismo-possui

Blog Saúde Infantil – Hospital Infantil Sabará. (2022). Quanto custa criar um filho com TEA. Disponível em: https://www.blogsaudeinfantil.org.br/quanto-custa-criar-um-filho-com-tea/

Joao Victorino 09JAN25 19 min scaled e1741964613232

Por João Victorino

João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais com ampla experiência no mundo corporativo, liderando unidades de negócios, equipes e transformado estratégia em prática por todas as empresas em que trabalhou. Liderou grandes negociações com instituições financeiras de grande porte, com impacto de bilhões de reais em faturamento e receita.

Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA – USP, professor de MBA do IBMEC, colunista da Investing.com, entre outras atividades.

Empreendeu em várias empresas como investidor, em paralelo com a vida executiva, e aprendeu com sucessos e fracassos nesse segmento.

Entendeu e aplicou a importância de ter equilíbrio financeiro ao longo de mais de 30 anos de investimentos em vários setores, com amplo sucesso. Fez 1 milhão de reais de patrimônio antes dos 30 anos de idade, e hoje divide esses aprendizados.

Para isso, criou e lidera a iniciativa A hora do dinheiro, com uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.

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Por João Victorino

João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais com ampla experiência no mundo corporativo, liderando unidades de negócios, equipes e transformado estratégia em prática por todas as empresas em que trabalhou. Liderou grandes negociações com instituições financeiras de grande porte, com impacto de bilhões de reais em faturamento e receita.

Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA – USP, professor de MBA do IBMEC, colunista da Investing.com, entre outras atividades.

Empreendeu em várias empresas como investidor, em paralelo com a vida executiva, e aprendeu com sucessos e fracassos nesse segmento.

Entendeu e aplicou a importância de ter equilíbrio financeiro ao longo de mais de 30 anos de investimentos em vários setores, com amplo sucesso. Fez 1 milhão de reais de patrimônio antes dos 30 anos de idade, e hoje divide esses aprendizados.

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