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Resumo – Como a Coreia do Sul consegue reciclar 97% dos resíduos alimentares? Entenda o modelo coreano, e veja o que o Brasil pode aprender.
Artigo adaptado da BBC News, com nossa visão e comentários adicionais para reflexão.
A Coreia do Sul é hoje referência mundial em reciclagem de resíduos alimentares, atingindo impressionantes 97,5% de reaproveitamento. Essa conquista, porém, é fruto de um longo processo de conscientização, inovação tecnológica e políticas públicas rigorosas.
Vamos explorar como o país conseguiu esse feito e quais lições ele pode ensinar para o restante do mundo — inclusive para o Brasil.
Uma cultura de responsabilidade: ‘pague pelo seu desperdício’
O sistema sul-coreano se baseia em um princípio simples: quem desperdiça, paga.
Seja por meio de sacolas autorizadas, adesivos de pesagem ou máquinas com tecnologia RFID, os cidadãos precisam arcar com os custos proporcionais à quantidade de resíduos alimentares que descartam. Essa cobrança direta gera consciência imediata sobre o desperdício.
Segundo dados divulgados pela BBC, cada morador vê o peso dos restos de comida na hora do descarte. Em condomínios modernos, o valor é lançado diretamente na fatura de serviços públicos, como a conta de água.
A ideia de tornar o desperdício visível e custoso é extremamente poderosa. Ela transforma um problema invisível em uma responsabilidade individual concreta, algo que falta em muitos países.
Como o sistema evoluiu
Nos anos 1990, a Coreia do Sul reciclava menos de 3% dos seus resíduos alimentares. A mudança começou após:
- Urbanização rápida, gerando problemas com aterros sanitários;
- Pressão popular, devido ao mau cheiro e ao impacto ambiental;
- Adoção de políticas públicas rigorosas, como a proibição de descarte de restos de comida em aterros (2005) e a cobrança por peso (2013).
Além disso, campanhas educativas frequentes ajudaram a consolidar novos hábitos na população.
Mudanças culturais profundas exigem tempo, campanhas contínuas e envolvimento da comunidade. Educação ambiental deve ser constante, não pontual.
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O que acontece com os resíduos reciclados?
De acordo com o artigo original da BBC:
- 49% dos resíduos são transformados em ração animal;
- 25% viram adubo;
- 14% são usados para gerar biogás.
Ainda há desafios, como o risco sanitário associado às rações de restos alimentares e o excesso de sal nos resíduos coreanos. Mesmo assim, o sistema é considerado robusto e seguro.
O aproveitamento integral dos resíduos é o que fecha o ciclo da sustentabilidade. No Brasil, temos grande potencial para ampliar o uso de biodigestores e compostagem urbana, por exemplo.
Multas e fiscalização
Quem não respeita as regras enfrenta penalidades:
- Residências: multas acima de US$ 70 (R$ 400).
- Empresas: multas que podem ultrapassar US$ 7 mil (R$ 41 mil).
Além disso, câmeras de segurança e sensores RFID ajudam a fiscalizar o descarte irregular.
Sem fiscalização efetiva, nenhuma política ambiental se sustenta. O Brasil precisa investir mais em controle e punição para quem descumpre normas de descarte correto.
É possível aplicar isso no Brasil?
Especialistas alertam que não existe uma fórmula única. Cada país precisa adaptar as soluções à sua realidade social e econômica. Em regiões com insegurança alimentar, por exemplo, o foco deveria ser primeiro na redução de perdas e incentivo a doações, antes de cobrar pelo descarte.
Embora a aplicação literal do modelo sul-coreano seja desafiadora no Brasil, adotar princípios básicos como educação ambiental, incentivos positivos e penalizações graduais pode gerar avanços significativos.
O exemplo da Coreia do Sul mostra que mudar é possível
Reciclar quase 100% dos resíduos alimentares parecia impossível há 30 anos na Coreia do Sul. Hoje, é uma realidade.
O caminho exige:
- Educação e conscientização contínua;
- Tecnologia a serviço do meio ambiente;
- Políticas públicas firmes e fiscalizadas;
- Engajamento comunitário genuíno.
Se queremos construir um futuro mais sustentável, precisamos nos inspirar em exemplos de sucesso como esse — adaptando as soluções à nossa realidade e começando, desde já, a mudar nossos próprios hábitos.


Por João Victorino
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais. Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA - USP. Executivo em empresas multinacionais nas áreas de desenvolvimento de negócios, marketing e estratégia. Possui ampla experiência no empreendedorismo e hoje divide esses aprendizados. Para isso, o especialista criou e lidera o canal A hora do dinheiro , com conteúdo gratuito e uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.