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Resumo – O que é marcação a mercado? Entenda melhor como funciona esse mecanismo impacta seus investimentos para não ter surpresas desagradáveis.
Se você já investiu em renda fixa ou fundos de investimento, pode ter percebido que o valor do seu investimento muda todos os dias. Mas por quê? Será que a renda fixa não é tão “fixa” assim como dizem?
Isso acontece por causa de um mecanismo chamado marcação a mercado.
Para quem está começando, esse conceito pode parecer complicado, mas neste breve texto, vamos explicá-lo de forma simples, com exemplos práticos para que você entenda de vez como isso afeta seus investimentos e se você deve se preocupar com ele.
O que é marcação a mercado?
Marcação a mercado é a atualização diária do preço de um ativo com base no valor pelo qual ele seria negociado no mercado naquele momento.
Imagine que você comprou um título do governo (como o Tesouro Direto) por R$ 500. Se os juros subirem ou caírem, o preço desse título também vai mudar, mesmo que você não o tenha vendido. Isso ocorre porque, se fosse vendido no mercado hoje, ele teria um valor diferente daquele que você pagou.
Esse mecanismo é essencial para garantir que os preços dos ativos reflitam a realidade do mercado, trazendo mais transparência para os investidores (e mais segurança para o mercado como um todo, pois impede que tenhamos surpresas bilionárias ao verificar os valores de títulos d renda fixa custodiado por bancos, corretoras e fundos de investimento).
Gosto de usar a seguinte analogia: é como se, todos os dias, você recebesse propostas para vender seu imóvel, cada uma com um valor diferente.
Uma analogia simples para entender
Vamos imaginar que você comprou um apartamento por R$ 300 mil. Após um ano, surge uma grande obra de infraestrutura no bairro, valorizando os imóveis da região. Se você quiser vender seu apartamento, poderá pedir um valor maior, como R$ 350 mil.
Mas e se, em vez disso, acontecesse um desastre natural no bairro? O valor do imóvel poderia cair para R$ 250 mil, mesmo que você ainda não o tenha vendido.
A marcação a mercado nos investimentos funciona da mesma forma: os preços mudam todos os dias, de acordo com fatores como taxa de juros, oferta e demanda, e condições econômicas.
Como a marcação a mercado afeta os investimentos?
Se você investe em títulos de renda fixa, como CDBs, LCIs e Tesouro Direto, entre outros, a marcação a mercado pode fazer com que o valor do seu investimento oscile antes do vencimento. Isso acontece porque, se os juros subirem, novos títulos serão emitidos pagando mais, desvalorizando os títulos antigos.
Já nos fundos de investimento, a cota do fundo é atualizada diariamente conforme o valor de mercado dos ativos dentro dele. Isso significa que mesmo que você não compre ou venda nada, o saldo da sua aplicação pode subir ou cair.
Exemplo de prejuízo com a marcação a mercado
Vamos supor que em 2025 você tenha comprado um Título do Tesouro Pré-fixado com taxa de 14% ao ano, e vencimento em 2030.
Se você segurar esse título até o vencimento, receberá de volta o valor investido (principal) mais os juros do período – no caso, 14% a.a., independentemente do que acontecer na economia.
E se a inflação subisse para 20% ao ano durante esse período? Você ainda receberia os 14% ao ano. Ou seja, teria uma perda real (quando a rentabilidade é descontada da inflação).
Mas, nesse cenário hipotético, o Governo emitiria títulos que pagam 22% ao ano. Nesse caso, o seu título de 14% a.a. já não seria mais tão atrativo no mercado, visto que existiriam papeis com rentabilidades maiores à disposição (e com o mesmo nível de risco).
Por esse motivo, se você quisesse vendê-lo antes do vencimento, o título teria de ser vendido a um valor mais baixo, para compensar a rentabilidade menor.
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Exemplo de lucro com a marcação a mercado
Agora, vamos ver como a marcação a mercado pode gerar lucro em um investimento.
Suponha que, em 2025, você tenha comprado um Título do Tesouro Prefixado com uma taxa de 14% ao ano, com vencimento em 2030.
Se você segurar esse título até o vencimento, receberá exatamente os 14% ao ano, independentemente do que acontecer na economia. Mas, e se os juros caírem antes disso?
Imagine que, em 2026, o cenário econômico mudou e as taxas de juros desse título pré-fixado caíram para 8% ao ano. Isso significa que o Governo agora emite novos títulos com uma rentabilidade menor do que os 14% ao ano que você já garantiu.
O que acontece com o seu título? Ele se torna mais valioso, porque paga uma taxa maior do que os títulos recém-lançados.
Se você decidir vender antes do vencimento, poderá negociá-lo por um valor acima do que pagou, pois os investidores estarão dispostos a pagar mais para garantir essa rentabilidade superior.
Ou seja, a marcação a mercado pode ser uma oportunidade de lucro, desde que você entenda o momento certo de comprar e vender.
Devo me preocupar com a marcação a mercado?
Depende do seu objetivo. Se você pretende manter um título até o vencimento, a marcação a mercado não importa, pois você receberá exatamente o combinado no momento da aplicação.
Mas se precisar vender antes do prazo, pode acabar resgatando por um valor menor do que investiu, caso o mercado esteja desfavorável.
Para quem investe em fundos, é importante saber que a cota do fundo pode variar, mas isso faz parte do funcionamento normal do mercado.
Atenção! Especulação com títulos não é para qualquer um
Apesar da possibilidade de lucro, é importante reforçar que um investidor precavido e conservador deve comprar títulos para segurá-los até o vencimento. Essa é a maneira mais segura de garantir a rentabilidade contratada e evitar surpresas no meio do caminho.
Especular com títulos públicos é algo que exige experiência e conhecimento, sendo mais adequado para profissionais do mercado financeiro. Não devemos brincar com o nosso dinheiro.
Se, em algum momento, você se encontrar na posição certa e tiver a chance de um bom lucro, aproveite a sorte – mas nunca conte com ela como estratégia principal.
Conclusão
A marcação a mercado pode assustar no começo, mas é um mecanismo essencial para garantir transparência e refletir o valor real dos ativos no dia a dia.
Se você investe com um objetivo de longo prazo e entende o funcionamento desse conceito, pode evitar decisões precipitadas e aproveitar melhor as oportunidades do mercado.
Por isso, é importantíssimo definir corretamente suas metas financeiras e escolher produtos adequados para cada objetivo em específico.
Por exemplo, para a sua reserva de emergência, o mais recomendado é deixar em produtos que não sofram esse efeito da marcação a mercado, como no Tesouro Selic, em CDBs de bancos grandes que rendam 100% do CDI, ou até mesmo na poupança.
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Por João Victorino
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais. Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA - USP. Executivo em empresas multinacionais nas áreas de desenvolvimento de negócios, marketing e estratégia. Possui ampla experiência no empreendedorismo e hoje divide esses aprendizados. Para isso, o especialista criou e lidera o canal A hora do dinheiro , com conteúdo gratuito e uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.