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Resumo – quais são os principais motivos que levam muitas das empresas do setor aéreo a declararem falência?
Investir no setor aéreo pode parecer uma oportunidade promissora à primeira vista, afinal, a aviação é fundamental para o comércio global, o turismo e a conectividade entre as nações.
No entanto, a realidade é que esse é um dos setores mais difíceis para investidores, com uma longa história de falências e dificuldades financeiras.
Entender os motivos por trás desse cenário pode ajudar a evitar armadilhas ao considerar investimentos em companhias aéreas.
Altos custos operacionais e margens estreitas
Uma das principais razões pelas quais investir no setor aéreo é desafiador é o alto custo operacional. Combustível, manutenção, salários de pilotos e tripulação, taxas aeroportuárias e arrendamentos de aeronaves são apenas algumas das despesas que as companhias aéreas enfrentam.
Esses custos são fixos e significativos, independentemente da demanda por voos, o que significa que as margens de lucro são geralmente muito estreitas.
Sensibilidade à economia global
O setor aéreo é extremamente sensível a flutuações econômicas globais. Em tempos de crise econômica, a demanda por viagens aéreas tende a diminuir, levando a uma queda na receita das companhias.
Isso foi claramente observado durante a crise financeira de 2008 e, mais recentemente, durante a pandemia de COVID-19, quando a maioria das companhias aéreas viu suas operações reduzidas drasticamente ou até suspensas por completo.
Exemplos de falências no Brasil e no exterior
A história está repleta de exemplos de companhias aéreas que enfrentaram dificuldades financeiras e eventualmente faliram. No Brasil, a VASP e a Varig são casos emblemáticos.
A VASP, uma das maiores companhias aéreas do país nas décadas de 1980 e 1990, enfrentou problemas financeiros severos e encerrou suas operações em 2005. A Varig, por sua vez, foi a maior companhia aérea do Brasil por décadas, mas problemas de gestão e a falta de adaptação às mudanças do mercado levaram à sua falência em 2006.
No cenário internacional, a Pan American World Airways (Pan Am), que já foi a maior companhia aérea do mundo, é um exemplo clássico de uma empresa que não conseguiu sobreviver às mudanças no setor. A Pan Am enfrentou dificuldades financeiras devido ao aumento dos preços do petróleo nos anos 1970 e à competição crescente, culminando em sua falência em 1991.
Outro exemplo recente é o da Monarch Airlines, uma das mais antigas companhias aéreas do Reino Unido, que fechou as portas em 2017 após enfrentar dificuldades financeiras causadas por mudanças no mercado e aumento dos custos operacionais.
Concorrência intensa e pressão por preços baixos
O setor aéreo também é marcado por uma concorrência feroz, o que muitas vezes leva a uma pressão para manter os preços das passagens baixos. Enquanto isso é benéfico para os consumidores, para as companhias aéreas significa que precisam equilibrar a oferta de tarifas acessíveis com a necessidade de cobrir altos custos operacionais, resultando em margens de lucro ainda menores.
A competição com companhias aéreas de baixo custo (low-cost) exacerba esse problema, forçando as empresas tradicionais a ajustarem suas estratégias e, muitas vezes, a operarem no limite de sua rentabilidade.
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Impactos de fatores externos
Além dos desafios internos, o setor aéreo é constantemente impactado por fatores externos, como variações no preço do petróleo, desastres naturais, ataques terroristas e pandemias.
Esses eventos podem ter efeitos devastadores sobre as operações e finanças das companhias aéreas, muitas vezes levando-as a situações insustentáveis. A crise do petróleo nos anos 1970, por exemplo, levou muitas companhias aéreas ao colapso devido ao aumento drástico dos custos de combustível.
Necessidade de ajuda governamental
Dado o alto custo operacional e as margens de lucro estreitas, não é incomum que companhias aéreas precisem de ajuda governamental para se manterem viáveis, especialmente durante crises. A ajuda pode vir na forma de subsídios, empréstimos com condições favoráveis ou até intervenções diretas, como a estatização temporária de empresas em dificuldades.
No Brasil, por exemplo, a crise da pandemia de COVID-19 levou o governo a considerar pacotes de ajuda para o setor aéreo. Esse tipo de intervenção é um sinal claro das dificuldades enfrentadas pelo setor e da sua vulnerabilidade a flutuações externas. Dependência de apoio governamental pode representar um risco adicional para investidores, pois demonstra a fragilidade das operações das companhias aéreas.
Até Warren Buffett desistiu do setor aéreo
Warren Buffett, um dos investidores mais respeitados do mundo, é conhecido por sua visão cautelosa em relação ao setor aéreo. Em várias ocasiões, Buffett expressou desconforto em investir em companhias aéreas, citando os desafios intrínsecos do setor, como os altos custos operacionais e a volatilidade extrema.
Embora ele tenha investido em grandes companhias aéreas americanas nos últimos anos, durante a pandemia de COVID-19, Buffett decidiu vender todas as suas participações nesse setor, afirmando que as incertezas eram grandes demais. Esse movimento de um investidor tão experiente reforça a percepção de que, apesar do apelo inicial, o setor aéreo é um dos mais difíceis para se obter retornos consistentes.
Conclusão
Investir no setor aéreo é uma tarefa complexa que exige cautela e uma compreensão profunda dos inúmeros desafios enfrentados por essas empresas. Embora o setor seja vital para a economia global, ele está repleto de riscos que podem rapidamente transformar uma oportunidade de investimento promissora em um fracasso financeiro.
A história de falências no Brasil e no exterior serve como um lembrete de que, embora as companhias aéreas possam voar alto, o caminho é repleto de turbulências que poucos conseguem superar a médio e longo prazo, principalmente acionistas minoritários, como eu e você.
Por João Victorino
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais. Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA - USP. Executivo em empresas multinacionais nas áreas de desenvolvimento de negócios, marketing e estratégia. Possui ampla experiência no empreendedorismo e hoje divide esses aprendizados. Para isso, o especialista criou e lidera o canal A hora do dinheiro , com conteúdo gratuito e uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.
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