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Resumo – Entenda como, sob ponto de vista econômico, sediar uma Copa do Mundo não é tão vantajoso
Sob o ponto de vista econômico, não vale a pena um país sediar uma Copa do Mundo. Então, por que ainda existem nações dispostas a participarem de um leilão onde quem der mais vantagens financeiras à Fifa (geralmente sob a forma de isenções fiscais) acaba sendo a anfitriã da festa?
Para João Victorino, administrador de empresas e especialista em finanças pessoais, se quisermos nos aprofundar na análise desse fenômeno, temos que buscar conhecer as principais fontes de receitas de um país e, em seguida, as despesas.
Quais são as principais receitas com o evento?
O especialista separou os ingredientes que fazem parte desta celebração:
1. Acomodação e hospitalidade
A principal fonte é o dinheiro obtido com o turismo, proveniente de viajantes estrangeiros, no entanto, depois do evento o número de novos visitantes costuma retornar às métricas observadas nos períodos anteriores ao torneio.
Além disso, pode ocorrer o chamado “turismo negativo”, que é um menor fluxo de turistas que o normalmente registrado para certo período do ano.
“Podemos observar o exemplo durante a Copa do Mundo na França em 1998, que obteve uma queda de 13% nas estadias de não residentes na região.
Os motivos para essa baixa no turismo tradicional podem ser: maior trânsito, barulho, preços mais altos e segurança pública em alta demanda. Entendemos que só é benéfico economicamente para o setor durante o evento em si”, explica o especialista.
2. Direitos sobre os ingressos
A entidade tutora do futebol possui 100% dos direitos de propriedade dos bilhetes, ou seja, o país sede não recebe nada com essa venda.
3. Direitos de transmissão e de imagens
Da mesma forma, o país sede não recebe nenhuma parcela do faturamento sobre a venda dos direitos de imagem do torneio.
“Para termos uma ideia, os direitos de transmissão corresponderam a 55% do total de receitas da Fifa com a Copa de 2018 na Rússia, foram da ordem de US$ 4,6 bilhões”, explica João.
4. Patrocínios e licenças
Todo o valor obtido por estes meios é também controlado totalmente pela entidade de futebol. Em 2018, 35% da receita da Fifa veio com o dinheiro de patrocínios.
Quais são os principais custos com o evento?
Para sediar grandes eventos como a Copa do Mundo, a Infraestrutura e a logística, são essenciais, assim, investimentos em estradas, transporte ferroviário e aeroviário, além de aportes necessários para o setor de turismo e hotelaria e, naturalmente, em construção civil e engenharia, com construção e reforma de estádios, são necessários.
Há criação de empregos?
O especialista explica que o impacto socioeconômico resultante dos pesados investimentos em infraestrutura e turismo, claramente, promovem um bem-estar na sociedade que recebe o evento, com renovação de cidades e uma malha de transporte público mais adequada.
“A infraestrutura logística permite maior fluxo de cargas e pessoas, o que, em última instância, possibilita maior eficiência nos deslocamentos e, por consequência, maior produtividade (palavra chave para toda economia que deseja ter crescimento) para empresas e pessoas”.
Em relação a novos empregos, alguns dados do relatório fornecido pelo comitê da última Copa, na Rússia em 2018, nos mostram que mais de 315 mil empregos foram criados durante o ano no país para receber o evento, podendo trazer impacto ainda nos 5 anos seguintes ao torneio.
O país-sede fica endividado?
Ainda assim, mesmo com todos os benefícios econômicos e sociais acima listados, João afirma que os custos acabam sempre sendo maiores que as receitas dos países sede, por uma série de razões.
Dentre elas, destacam-se as isenções fiscais concedidas à FIFA e a seus patrocinadores. Com elas, o país deixa de arrecadar impostos que naturalmente receberia de setores como alimentação e bebidas no período do torneio.
Vejamos, por exemplo, o faturamento da entidade com o torneio em suas últimas edições:
Edição do Torneio | Valor das Receitas (em US$) |
Catar – 2022 | 6,5 bilhões (previsão) |
Rússia – 2018 | 4,6 bilhões |
Brasil – 2014 | 4,8 bilhões |
África do Sul – 2010 | 4,2 bilhões |
Alemanha- 2006 | 2,6 bilhões |
Coréia e Japão – 2002 | 1,6 bilhão |
O especialista explica que muitos dos investimentos em infraestrutura acabam não sendo bem utilizados, o que consiste em um uso não eficiente do dinheiro público, que poderia ter sido destinado a alguma outra finalidade mais interessante para a sociedade.
Dessa forma, com menos arrecadação e maior criação de dívidas, sobre as quais incorrem a cobrança de juros periódicos, não vale a pena, economicamente, que um país seja sede do maior torneio de futebol do planeta.
Sob outros aspectos, vale a pena?
Ao retornarmos à pergunta inicial, por que uma nação, então, decide candidatar-se a receber esse evento? Essa resposta passa por questões que vão além do olhar econômico e financeiro, tem a ver com a imagem que o país sede deseja transmitir ao mundo.
Esse fenômeno, também conhecido como sportswashing, representa o sequestro da popularidade do esporte para benefício de um país, que deseja ser visto com outros olhos pela população do mundo.
“A escolha do Catar como sede também passa pela tentativa de melhorar sua imagem desse país perante o mundo, mesmo que ainda tenha graves questionamentos relacionados aos direitos de mulheres, estrangeiros e minorias”, destaca João.
Afinal de contas, não há evento no planeta que possa se comparar a Copa do Mundo em termos de audiência.
O especialista explica que para termos uma dimensão do tamanho do palco mundial, a média de telespectadores por jogo na Copa em 2018 foi quase igual a audiência do superbowl (a final do futebol americano).
Além disso, na final de 2018, o número de pessoas que acompanharam a partida foi de 1,1 bilhão ao redor do globo.
“Assim, conseguimos explicar o porquê de tantos países lutarem entre si para sediar o torneio”, conclui João Victorino.
Observações:
- O especialista destaca que este é um tema complexo, com vários ângulos possíveis de análise.
- Dessa forma, nossa intenção é fornecer um resumo crítico das principais informações disponíveis em veículos de renome (nacionais e estrangeiros) para contribuirmos ao debate. Assim, reforçamos nosso objetivo principal, que é levar mais educação financeira às pessoas.
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