Como a falta de acessibilidade digital impacta as finanças das pessoas com deficiência?

Mesmo com o avanço do Pix e dos bancos digitais, milhões de pessoas com deficiência ainda enfrentam barreiras para acessar serviços financeiros. Entenda por que acessibilidade é também uma questão de dinheiro — e de inclusão.

Como a falta de acessibilidade digital impacta as finanças das pessoas com deficiência?

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Dreamstime - Bulltus Casso

Resumo – Mesmo com o avanço do Pix e dos bancos digitais, milhões de pessoas com deficiência ainda enfrentam barreiras para acessar serviços financeiros. Entenda por que acessibilidade é também uma questão de dinheiro — e de inclusão.

 

Você já parou para pensar em como a acessibilidade — ou a falta dela — pode afetar diretamente o bolso das pessoas com deficiência? Pois é, esse é um ponto que muitas vezes passa despercebido, mas faz toda a diferença quando falamos em inclusão financeira.

Segundo o Censo mais recente (2025), o Brasil tem cerca de 14,5 milhões de pessoas com deficiência — ou seja, 7,3% da população. É muita gente! Mas quando olhamos para os números, a realidade ainda é bem desigual:

  • O rendimento médio de uma pessoa com deficiência é R$ 1.860, quase 30% abaixo da média nacional.
  • A informalidade é altíssima: 55% dos trabalhadores PcDs não têm emprego formal, contra 38,7% no restante da população.
  • Apenas 29,2% das PcDs estão na força de trabalho, enquanto entre pessoas sem deficiência esse índice passa de 66%.
  • E as mulheres com deficiência sentem ainda mais: ganham, em média, 34% menos que outras mulheres.

 

Mesmo com a Lei de Cotas (que obriga empresas maiores a contratar PcDs), a inclusão no mercado formal ainda não engrenou. Mas o problema vai muito além da contratação. Barreiras físicas, digitais e até culturais dificultam que esse público tenha as mesmas oportunidades de crescimento.

E quando falamos de finanças pessoais, isso pesa, e muito. Vamos entender melhor?

 

Acessibilidade digital: quando o banco não cabe na tela

 

Apesar dos avanços da tecnologia, a maioria dos sites e aplicativos bancários ainda não é amigável para PcDs.

  • Muitos apps não funcionam bem com leitores de tela.
  • A navegação por teclado é limitada.
  • Faltam descrições de imagens e tradução em Libras.

 

Ou seja: a pessoa acaba precisando de ajuda de terceiros para realizar operações simples — o que compromete não só a autonomia, mas também a segurança dos dados financeiros.

E os números não deixam dúvidas:

  • Dos 21 milhões de sites brasileiros, apenas 0,46% seguem de fato as regras de acessibilidade.
  • Entre os grandes apps de Android, menos de 15% têm descrições de imagens.
  • No caso do Pix, das mais de 700 instituições habilitadas, só 35 oferecem acessibilidade (e ainda de forma parcial).

 

Leia também minha coluna na Investing.com

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Barreiras físicas nas agências

Quem já precisou de atendimento presencial sabe: nem sempre as agências bancárias estão preparadas. Rampas mal projetadas, falta de sinalização em braille e até portas inacessíveis ainda fazem parte da rotina. Imagine depender de um banco e não conseguir sequer entrar nele!

 

Atendimento que não entende as necessidades

Outro ponto crítico é o atendimento. Muitos funcionários não têm treinamento adequado para lidar com clientes PcDs, e isso resulta em experiências frustrantes, demoradas e ineficientes.

Mas nem tudo é negativo: há avanços no horizonte. Algumas iniciativas já começam a mostrar caminhos mais inclusivos.

 

Caminhos para a acessibilidade

  • O Banco do Brasil adicionou recursos no app para atender melhor pessoas com baixa visão.
  • Ferramentas como a EqualWeb ajudam bancos a adaptar seus sites com navegação por teclado, leitores de tela e Libras.
  • E o destaque vai para o Parabank, o primeiro banco digital pensado por, com e para pessoas com deficiência.

O Parabank nasceu da visão do ex-paratleta Gelson Junior e tem um propósito claro: promover inclusão financeira real. Entre as novidades, estão cartões com braille, linhas de crédito adaptadas, marketplace especializado e até um instituto parceiro da Visa para capacitação e apoio.

 

Inclusão é investimento, não custo

A falta de acessibilidade (seja digital, física ou no atendimento) coloca milhões de brasileiros em desvantagem no acesso ao dinheiro e às oportunidades. Mas cada avanço, cada iniciativa inclusiva, abre caminho para uma sociedade mais justa e, claro, para um mercado financeiro mais diverso.

No fim das contas, inclusão não é gasto, é investimento — e todo mundo ganha quando mais pessoas podem participar plenamente da economia.

A provocação que fica: até quando os bancos e fintechs vão tratar a acessibilidade como “extra” e não como parte essencial da experiência financeira?

Inovar de verdade é incluir. E o mercado que entender isso primeiro, vai sair na frente.

 

Referências

DIÁRIO PcD. Visa e Parabank lançam cartão de crédito voltado para PcDs. (2024, 21 ago.). Disponível em: https://diariopcd.com.br/visa-e-parabank-lancam-cartao-de-credito-voltado-para-pcds/

Dock Tech. Parabank é o primeiro banco digital para pessoas com deficiência. (2024). Disponível em: https://dock.tech/fluid/blog/press_releases/parabank-e-o-primeiro-banco-digital-para-pessoas-com-deficiencia/

Parabank. Institucional e produtos inclusivos. (2025). Disponível em: https://parabank.com.br

ESG Inside. Parabank inaugura ParaInstituto em parceria com Visa. (2025, 6 mar.). Disponível em: https://esginside.com.br/2025/03/06/parabank-1o-banco-digital-para-pcds-inaugura-parainstituto/

Folha Vitória. Para pessoa com deficiência, até pagar conta é uma complicação. (2024, 9 ago.). Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/colunas/voz-da-inclusao/artigos/2024/08/09/para-pessoa-com-deficiencia-ate-pagar-conta-e-uma-complicacao/

Sustentabilidades. Pessoas com deficiência têm menor acesso à educação, trabalho e renda. (2024). Disponível em: https://sustentabilidades.com.br/index.php/pt/saude/pessoas-com-deficiencia-tem-menor-acesso-a-educacao-ao-trabalho-e-a-renda

Contábeis. Empresas ainda não estão preparadas para receber PcDs. (2024). Disponível em: https://www.contabeis.com.br/noticias/69179/pesquisa-revela-que-empresas-nao-estao-preparadas-para-receber-pcds/

Edição do Brasil. Pesquisa mostra dificuldade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. (2025, 14 fev.). Disponível em: https://edicaodobrasil.com.br/2025/02/14/pesquisa-mostra-dificuldade-das-pessoas-com-deficiencia-no-mercado-de-trabalho/

Agência Brasil. Brasil tem 14,4 milhões de pessoas com deficiência, aponta Censo 2025. (2025, mai.). Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-05/brasil-tem-144-milhoes-de-pessoas-com-deficiencia

Joao Victorino 09JAN25 19 min scaled e1741964613232

Por João Victorino

João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais com ampla experiência no mundo corporativo, liderando unidades de negócios, equipes e transformado estratégia em prática por todas as empresas em que trabalhou. Liderou grandes negociações com instituições financeiras de grande porte, com impacto de bilhões de reais em faturamento e receita.

Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA – USP, professor de MBA do IBMEC, colunista da Investing.com, entre outras atividades.

Empreendeu em várias empresas como investidor, em paralelo com a vida executiva, e aprendeu com sucessos e fracassos nesse segmento.

Entendeu e aplicou a importância de ter equilíbrio financeiro ao longo de mais de 30 anos de investimentos em vários setores, com amplo sucesso. Fez 1 milhão de reais de patrimônio antes dos 30 anos de idade, e hoje divide esses aprendizados.

Para isso, criou e lidera a iniciativa A hora do dinheiro, com uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.

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João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais com ampla experiência no mundo corporativo, liderando unidades de negócios, equipes e transformado estratégia em prática por todas as empresas em que trabalhou. Liderou grandes negociações com instituições financeiras de grande porte, com impacto de bilhões de reais em faturamento e receita.

Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA – USP, professor de MBA do IBMEC, colunista da Investing.com, entre outras atividades.

Empreendeu em várias empresas como investidor, em paralelo com a vida executiva, e aprendeu com sucessos e fracassos nesse segmento.

Entendeu e aplicou a importância de ter equilíbrio financeiro ao longo de mais de 30 anos de investimentos em vários setores, com amplo sucesso. Fez 1 milhão de reais de patrimônio antes dos 30 anos de idade, e hoje divide esses aprendizados.

Para isso, criou e lidera a iniciativa A hora do dinheiro, com uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.

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