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Resumo – Consórcio é investimento? A resposta pode surpreender você! Entenda os riscos, vantagens e armadilhas que nem todos os vendedores revelam.
Ao buscar formas de realizar um sonho — como comprar um carro ou imóvel — muita gente acaba se perguntando: consórcio é investimento?
Essa dúvida é mais comum do que parece. Afinal, o consórcio é frequentemente vendido como uma alternativa sem juros, mais barata que o financiamento, e com parcelas acessíveis. Mas será que essa imagem corresponde à realidade?
Neste texto, vamos esclarecer o que é o consórcio, como ele funciona de verdade, quais são os riscos envolvidos e por que ele não deve ser encarado como investimento. Vamos nessa?
Consórcio é investimento?
Antes de mais nada, é importante entender do que estamos falando.
O consórcio é uma forma de compra coletiva e parcelada, em que um grupo de pessoas se organiza, por meio de uma administradora, com o objetivo de adquirir bens como imóveis, veículos ou serviços.
A cada mês, uma ou mais pessoas do grupo são contempladas com uma carta de crédito, por sorteio ou lance. Essas pessoas podem, então, usar o valor para adquirir o bem desejado.
Mas atenção: durante todo esse tempo, o dinheiro que você paga não rende nada acima da inflação — apenas aguarda a sua contemplação.
Portanto, diferente de um investimento, o consórcio não gera retorno financeiro. É, no máximo, uma maneira de se planejar para comprar algo no futuro.
A promessa do vendedor — e o que ele costuma esconder
Muitos vendedores apresentam o consórcio como a solução perfeita: sem juros, parcelas que cabem no bolso, uma forma de realizar seu sonho com disciplina.
Mas é aqui que você precisa ficar atento.
Em muitas simulações, o que não aparece — e que o vendedor muitas vezes omite — é que o valor da carta de crédito costuma ser corrigido periodicamente por índices de inflação, como o INCC (no caso de imóveis).
O que isso significa na prática? Que o valor das parcelas também vai aumentando ao longo do tempo.
Na hora de fechar o contrato, a parcela parece acessível. Mas, com o passar dos meses, ela vai ficando mais cara. Em alguns casos, ao final do consórcio, o total pago é maior até do que em um financiamento com juros fixos.
O risco é todo seu
Outro ponto que poucos comentam é o risco da operação. Quando você faz um financiamento com banco, o risco de inadimplência é do banco — você recebe o bem e o banco arca com o risco de calote.
No consórcio, é diferente. O risco recai sobre você.
Se a administradora do consórcio tiver má gestão ou até quebrar, o seu dinheiro pode ficar travado ou até se perder parcialmente. É por isso que só se deve contratar consórcios de empresas autorizadas e fiscalizadas pelo Banco Central. E mesmo assim, o risco não é zero.
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Contemplação precoce: exceção que confirma a regra
Existe um cenário em que o consórcio pode parecer vantajoso: quando você é contemplado logo no início do grupo.
De fato, quem é sorteado ou oferece um lance vencedor nos primeiros meses, pode sair na frente e usar a carta de crédito rapidamente. Mas isso não é garantia de sucesso.
Mesmo sendo contemplado, você precisará comprovar renda suficiente para liberar o crédito. Se não tiver como comprovar essa capacidade, o consórcio não entrega o bem, e o plano segue como se nada tivesse acontecido.
Liquidez: o dinheiro preso por tempo indeterminado
Vamos falar agora sobre um dos principais pontos fracos do consórcio: a liquidez, ou melhor, a falta dela.
Liquidez é a facilidade de transformar um bem ou investimento em dinheiro disponível. No consórcio, se você não for contemplado, o dinheiro fica preso. E se desistir, terá que esperar até o final do grupo para receber seu dinheiro de volta — corrigido, sim, mas apenas no encerramento do contrato, o que pode demorar muitos anos.
Isso significa que, em momentos de necessidade, você não consegue contar com o dinheiro que já pagou.
Existem empresas que podem comprar sua parte, mas por um valor muito abaixo daquele que você já aportou.
Alavancagem patrimonial: o termo bonito que esconde riscos
Outro argumento muito usado por quem vende consórcios é o da “alavancagem patrimonial”.
O nome soa técnico, sofisticado, quase irresistível. Mas, na prática, o que isso quer dizer?
Alavancar o patrimônio significa usar recursos de terceiros para aumentar sua base de bens e acelerar o enriquecimento. No caso do consórcio, o vendedor sugere que você use a carta de crédito como entrada para adquirir um imóvel, por exemplo, e com isso multiplique seu patrimônio rapidamente ao alugar esse imóvel para outras pessoas.
O problema? Esses cenários são quase sempre montados com projeções irreais, que assumem uma rentabilidade alta e constante, zero vacância no aluguel do imóvel adquirido e nenhum imprevisto.
Ou seja, um mundo perfeito — que não existe fora do papel.
Na prática, basta um inquilino atrasar ou sair do imóvel para o plano de enriquecimento virar dor de cabeça. E, diferentemente do que muitos pensam, a carta de crédito do consórcio não é um dinheiro que sobra: ela é uma dívida futura a ser paga com reajustes anuais (que podem subir mais rápido que o aluguel).
Disciplina forçada: solução ou armadilha?
Um argumento muito comum para defender o consórcio é o da disciplina forçada: ele te obriga a pagar um boleto todo mês, como se fosse um “cofrinho automático”.
Mas vale refletir: isso não é o mesmo que investir.
Na prática, é como pagar a alguém para te cobrar o seu próprio dinheiro, sem rentabilidade, com baixa liquidez e cheio de restrições.
Se você soubesse que pode organizar suas finanças por conta própria, com muito mais flexibilidade e retorno, ainda faria sentido pagar por esse “controle”?
Hoje, existem várias formas de criar esse mesmo compromisso de guardar dinheiro com investimentos reais, que rendem, têm liquidez e podem ser resgatados quando você quiser. Tesouro Direto, CDBs, fundos de investimento e até contas remuneradas são opções melhores para quem busca acumular capital ao longo do tempo.
Enfim, consórcio vale a pena?
Consórcio não é investimento. É uma forma de compra parcelada, com custos escondidos, riscos relevantes e pouca flexibilidade.
Ele pode até funcionar para quem for contemplado cedo e tiver renda comprovada, mas está longe de ser uma forma eficiente de fazer o dinheiro render ou proteger seu patrimônio.
Se você quer mesmo realizar um sonho com planejamento e segurança, talvez o melhor caminho seja buscar educação financeira e orientação especializada.
Assim, você constroi sua conquista com liberdade, controle e maior rentabilidade — sem depender da sorte, sem ficar preso a um sistema que lucra com a sua limitação.


Por João Victorino
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais. Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA - USP. Executivo em empresas multinacionais nas áreas de desenvolvimento de negócios, marketing e estratégia. Possui ampla experiência no empreendedorismo e hoje divide esses aprendizados. Para isso, o especialista criou e lidera o canal A hora do dinheiro , com conteúdo gratuito e uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.