É possível só viver de investimentos? Sim, mas é para poucos

Tema presente em inúmeros vídeos e postagens de influenciadores de finanças, o assunto está cada vez mais presente nas discussões e conversas de pessoas que buscam saber se é realmente possível viver apenas com os rendimentos de nossos investimentos. Leia mais neste texto.

É possível só viver de investimentos? Sim, mas é para poucos

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Imagem: Dilok Klaisataporn - Shutterstock
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Imagem: Dilok Klaisataporn – Shutterstock

 

Resumo – Tema presente em inúmeros vídeos e postagens de influenciadores de finanças, o assunto está cada vez mais presente nas discussões e conversas de pessoas que buscam saber se é realmente possível viver apenas com os rendimentos de nossos investimentos. Leia mais neste texto.

 

Afinal, é possível “viver de renda”?

 

Essa pergunta anda por todas as rodas de quem se interessa pelo tema de finanças e investimentos. Temos uma resposta mais ou menos padronizada:

“Sim, você deverá juntar um estoque de recursos satisfatório com a intenção de que a sua rentabilidade total (mensal ou anual) seja suficiente para pagar todas as suas contas – descontadas da inflação”.

Vamos explicar esse negócio : 

  • Estoque de recursos suficiente é um volume bastante grande de grana que você deverá ter acumulado até o momento em que você decidiu que passaria a usufruir desses investimentos para viver. Não sabemos qual é esse valor –  dependerá das despesas da pessoa.
  • Rentabilidade total (mensal ou anual) é o quanto rendem os seus investimentos nessa base de avaliação e com essa característica de liquidez.
    • Isso significa que se você tem investimentos que rendem anualmente, sem pagar juros ou dividendos ao mês (muitas ações de empresas pagam dividendos uma vez por ano) – você tem que levar em conta que receberá esse recurso anualmente e, assim, deverá deixá-lo em algum fundo de liquidez diária ou mensal a fim de poder gastá-lo em base mensal. 
    • Senão, administrar esse dinheiro parado numa conta não funciona, pois perde poder de compra por conta da inflação. 

 

Onde deixar alocado esse dinheiro?

 

Digamos, por exemplo, que o seu investimento de base anual renda 12% a.a. – você vai receber o montante investido, retirar a sua rentabilidade e gastá-la mensalmente até a chegada da próxima rentabilidade, 1 ano depois. 

Caso este seja seu único investimento, veja que você não deve gastá-lo imediatamente e sim à medida que os meses vão chegando. 

Nesse período intermediário, você precisa procurar algum investimento que tenha rentabilidade, segurança e liquidez adequadas ao seu objetivo – que possivelmente não terá a mesma taxa de rentabilidade do investimento anual, correto? (Do contrário, você migraria seus investimentos para essa opção mensal).

Pagar todas as suas contas significa o que está dito. Essa rentabilidade é suficiente para pagar todas as suas despesas e gastos. 

Veja que esse conceito se parece um pouco com o conceito de liberdade financeira que tratamos neste texto , mas é diferente porque lá tratamos de despesas essenciais. E isso faz toda a diferença. 

As despesas essenciais nunca é demais lembrar – são despesas que dizem respeito à sobrevivência sua e de sua família, caso tenha.

 

Rentabilidade nominal x rentabilidade real

 

Descontada da inflação, quer dizer que a rentabilidade nominal tem que incluir a inflação no período. 

Veja no caso descrito acima, se a rentabilidade dos investimentos da pessoa foi de 12% a.a. e, durante esse mesmo ano, a inflação foi de 2%, a rentabilidade que a pessoa teve realmente foi 10% a.a., concorda? 

O preço dos produtos que a pessoa comprava quando iniciou o investimento foi aumentado em 2%, ou seja, isso não foi ganho da pessoa. Foi apenas uma correção dos preços que o investimento deve incluir. 

Se a pessoa não considerar isso, corre o risco de perder o poder de compra do valor que está investido. Vai consumindo saldo (estoque) e fica sem grana. É muito perigoso não entender esse conceito.

Então, veja que o valor da rentabilidade real deve ser a inflação e mais os juros que serão pagos ao cliente para manter o poder de compra, fazendo jus ao objetivo de “viver dos seus investimentos”

 

Exemplo

 

Vamos fazer um conta simples agora: 

Quanto eu preciso ter de investimentos para viver deles, se o total de minhas despesas é de R$ 5.000,00 ao mês (ou R$ 60.000,00 ao ano)?

Temos os seguintes dados disponíveis para nós:

Em 2022, a Inflação no Brasil está apontando para 12%. 

Então, o investimento tem que render 12% e mais uma rentabilidade que equivale a, no mínimo, R$ 60.000,00 por ano.

Complicado? vamos para a conta. Temos que achar uma valor base, ou seja, o valor investido que alcance 12% + R$ 60.000,00.

 

Investimento inicial
(saldo ou estoque)
Taxa de inflação 
Rentabilidade nominal
(inflação + valorização)
Rentabilidade real
(rentabilidade nominal – inflação)
Rendimentos livre da inflação
Saldo restante
R$ 1.200.000,0012% a.a.17% a.a.5% a.a.R$ 60.000,00R$ 1.200.000,00

 

Veja que não é uma tarefa fácil. Então, como acumular esse valor ao longo de um tempo?

Lembrando que, aqui, temos mais 3 desafios:

1. As taxas de rentabilidade variam ao longo do tempo e aqui falamos de longo prazo.

 

 Ano CDI anual IPCA anual
 2011 11,59% 6,50%
 2012 8,39% 5,83%
 2013 8,06% 5,91%
 2014 10,81% 6,40%
 2015 13,23% 10,67%
 2016 13,99% 6,28%
 2017 9,92% 2,94%
 2018 6,42% 3,74%
 2019 5,94% 4,30%
 2020 2,75% 4,51%
 2021 4,42% 10,06%

 

2. Temos que incluir na conversa a tributação (que, atualmente, pode ser de 15% a 22,5% sobre os rendimentos, sem contar IOF e possíveis taxas). 

3. Talvez seja mais interessante as pessoas pensarem que os investimentos serão sempre um complemento para ajudar a aumentar renda ou patrimônio, para a imensa maioria das pessoas a renda que gerará resultado é a renda trabalho.

 

Se você deseja viver de renda, precisa saber disso para não cair na conversa de que o mercado financeiro não é difícil

Cuidado, é muito difícil. Quem quer acelerar seus ganhos pode se arriscar demais.

Por João Victorino

João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais com ampla experiência no mundo corporativo, liderando unidades de negócios, equipes e transformado estratégia em prática por todas as empresas em que trabalhou. Liderou grandes negociações com instituições financeiras de grande porte, com impacto de bilhões de reais em faturamento e receita.

Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA – USP, professor de MBA do IBMEC, colunista da Investing.com, entre outras atividades.

Empreendeu em várias empresas como investidor, em paralelo com a vida executiva, e aprendeu com sucessos e fracassos nesse segmento.

Entendeu e aplicou a importância de ter equilíbrio financeiro ao longo de mais de 30 anos de investimentos em vários setores, com amplo sucesso. Fez 1 milhão de reais de patrimônio antes dos 30 anos de idade, e hoje divide esses aprendizados.

Para isso, criou e lidera a iniciativa A hora do dinheiro, com uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.

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