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Resumo – Recompra de ações: o que é e o que isso revela sobre uma empresa? Vamos entender como funciona essa prática e quando ela é recomendada.
Você já ouviu falar que uma empresa “recomprou suas próprias ações” e ficou sem entender o que isso quer dizer? Ou então ouviu que isso pode fazer o preço da ação subir e pensou: “Será que isso é bom sinal ou estão tentando enganar os investidores?”
Calma, você não está sozinho. A recompra de ações é um daqueles temas do financês que parece complicado, mas que a gente consegue explicar com simplicidade aqui na Hora do Dinheiro. Vamos entender direitinho o que isso significa e o que você pode tirar dessa informação se já investe ou pretende investir em ações.
O que é recompra de ações?
Recompra de ações (ou “buyback”, no termo em inglês) é quando uma empresa que tem ações na bolsa decide usar parte do seu dinheiro (ou tomar recursos de terceiros, tipo empréstimo para recomprar ações, e dessa forma não precisam, necessariamente, usar só caixa) para comprar essas ações de volta no mercado. Ou seja, ela mesma vira compradora das suas próprias ações.
Essa decisão pode ser motivada por vários fatores, que vão desde estratégias de valorização até sinais de confiança no futuro do negócio. Mas vamos por partes.
Por que as empresas fazem recompra de ações?
Existem diversos motivos para uma recompra de ações acontecer, mas os principais são:
- Fazer uso racional de seu capital: se a empresa tem excesso de capital e não tem projetos para aplicar os recursos excedentes, ela pode usar esses recursos para recomprar as ações, porque acredita que o potencial da empresa é bem melhor do que investir em outros negócios, títulos e investimentos fora. Se o administrador da empresa entende que a empresa vai ter lucratividade de 15% no ano, e todos os outros ativos terão uma lucratividade menor, qual o sentido dele investir com expectativa de 10% se pode investir a 15%?
- Quando existe diferença relevante entre preço x valor: administrador entende que a ação vale 10 e todo o mercado acha que vale 7 – então é melhor recomprar – está comprando notas de R$ 100,00 por R$ 70,00
- Reduzir o número de ações em circulação: com menos ações no mercado, cada ação passa a representar uma fatia maior do lucro da empresa. Isso pode aumentar o lucro por ação (LPA), um indicador muito usado por analistas e investidores.
- Aumentar o valor das ações: quando a demanda sobe (nesse caso, por causa das compras feitas pela própria empresa), o preço tende a subir. Isso pode ajudar a valorizar o papel, beneficiando acionistas e até os próprios executivos, caso tenham bônus atrelados à performance das ações.Tomar uma decisão pensando só nisso não é uma boa ideia para o acionista…
Para além desses motivos, a recompra de ações também pode buscar
- Sinalizar confiança: a recompra também pode ser um jeito de a empresa mostrar que está confiante no seu futuro. Afinal, ela está usando dinheiro próprio para apostar que suas ações estão baratas e que vão subir.
- Distribuição de valor aos acionistas: em vez de pagar dividendos, algumas empresas preferem devolver valor ao acionista por meio da recompra — uma estratégia comum em países com maior carga tributária sobre dividendos.
Muitas vezes a diretoria não recomenda a recompra para ter recurso disponível para comprar outras empresas, outras linhas de negócio e cumprir suas metas e ganhar seus bônus… por isso, recomprar ações acaba sendo uma forma de impedir o uso “ativista” e, muitas vezes, errado de uma diretoria não tão comprometida com o patrimônio dos sócios.
Mas isso tudo só vale se for comprovado na prática, muitas vezes foi só uma promessa e os administradores não realizam.
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Mas isso infla artificialmente o preço da ação?
Essa é uma dúvida importante. Sim, a recompra pode causar uma valorização temporária, mas isso não quer dizer que seja algo negativo ou uma “manipulação”.
Tudo vai depender do contexto. Se a empresa está com caixa saudável, não tem grandes dívidas e a recompra é usada como parte de uma estratégia bem pensada, pode ser um excelente sinal.
Por outro lado, se a empresa está recomprando ações apenas para “maquiar” resultados ou agradar o mercado no curto prazo, sem fundamentos consistentes, aí o investidor precisa ligar o alerta.
Recompra de ações é um bom sinal?
Depende. Para avaliar se a recompra é um bom sinal, é essencial observar:
- A situação financeira da empresa: Ela tem caixa suficiente para isso ou está se endividando para fazer a recompra?
- A frequência com que isso acontece: É uma medida pontual ou algo rotineiro, mesmo em momentos de dificuldade?
- A transparência do processo: A recompra foi bem comunicada ao mercado? Seguiu os trâmites da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)?
Essas perguntas ajudam a entender se o movimento é uma oportunidade ou um risco disfarçado.
Como saber se uma empresa anunciou recompra de ações?
As empresas listadas na bolsa brasileira precisam comunicar formalmente a recompra, via fato relevante ou comunicado ao mercado. Isso fica disponível no site da própria empresa e também no site da CVM e da B3.
Além disso, muitos portais financeiros divulgam essas informações em tempo real. Fique de olho, principalmente, nas empresas que você já tem em carteira.
E para quem investe: o que fazer diante de uma recompra?
Se você já é acionista, a recompra pode significar:
- Uma valorização da sua posição atual;
- Menor diluição dos seus lucros por ação;
- Sinal de que a empresa acredita no seu próprio futuro.
Agora, se você ainda não investe na empresa, vale analisar com mais calma. A recompra sozinha não é motivo suficiente para comprar uma ação, mas pode ser um bom indicativo para você investigar mais a fundo.
Conclusão: recompra de ações é boa ou ruim?
A recompra de ações pode ser positiva quando usada com responsabilidade e dentro de uma estratégia sólida. Ela pode, sim, aumentar o valor da ação e beneficiar os investidores — mas também pode ser uma cortina de fumaça, se a empresa estiver tentando esconder problemas mais profundos.
Por isso, como sempre, a minha dica é: olhe o todo, não só o movimento da semana.
Quer entender mais sobre o que influencia o preço das ações? Acompanhe nossos conteúdos aqui no blog da Hora do Dinheiro, e se quiser aprender a investir com mais segurança, dá uma olhada no nosso curso Missão Investir.


Por João Victorino
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais com ampla experiência no mundo corporativo, liderando unidades de negócios, equipes e transformado estratégia em prática por todas as empresas em que trabalhou. Liderou grandes negociações com instituições financeiras de grande porte, com impacto de bilhões de reais em faturamento e receita.
Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA – USP, professor de MBA do IBMEC, colunista da Investing.com, entre outras atividades.
Empreendeu em várias empresas como investidor, em paralelo com a vida executiva, e aprendeu com sucessos e fracassos nesse segmento.
Entendeu e aplicou a importância de ter equilíbrio financeiro ao longo de mais de 30 anos de investimentos em vários setores, com amplo sucesso. Fez 1 milhão de reais de patrimônio antes dos 30 anos de idade, e hoje divide esses aprendizados.
Para isso, criou e lidera a iniciativa A hora do dinheiro, com uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.