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Resumo – Inflação implícita: o que é, como calcular e como usar esse importante conceito de investimentos no seu dia a dia.
Inflação implícita: o que é, como calcular e como usar no seu dia a dia
Inflação implícita parece palavrão de economista, mas calma que dá pra traduzir. Em português direto: é a inflação que o mercado espera para o futuro, embutida nos preços dos títulos públicos.
Ela nasce da comparação entre a taxa de um título prefixado e a taxa real (acima da inflação) de um título atrelado ao IPCA com prazos parecidos.
Por que isso importa para você
Antes de investir, você quer saber qual aposta o mercado está fazendo para a inflação. Assim, você decide com mais consciência entre Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+.
Se a inflação que você acredita for maior do que a implícita, em geral o Tesouro IPCA+ tende a proteger melhor seu poder de compra. Se achar que será menor, o Prefixado pode ser mais interessante. Simples assim.
Para relembrar como funcionam esses títulos, vale este passo a passo: Conheça o Tesouro Direto
A fórmula sem mistério
Inflação implícita ≈ Taxa do Prefixado – Taxa real do IPCA+
- Exemplo didático: se o Tesouro Prefixado de prazo semelhante paga 11% ao ano e o Tesouro IPCA+ paga 6% ao ano + IPCA, então a inflação implícita está por volta de 11% – 6% = 5% ao ano.
- Em outras palavras, 5% é o número que equilibra os dois investimentos: acima disso, o IPCA+ tende a sair na frente; abaixo disso, o Prefixado pode render mais.
Passo a passo para calcular na prática
- Escolha prazos parecidos. Compare um Prefixado e um IPCA+ com vencimentos próximos.
- Anote as taxas. Pegue a taxa nominal do Prefixado e a taxa real do IPCA+.
- Subtraia. Prefixado – Taxa real do IPCA+ = inflação implícita aproximada.
- Conclua. Pergunte-se: “acredito numa inflação futura maior ou menor que esse número?”
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Quando a inflação implícita sobe ou cai
- Sobe quando o mercado passa a esperar mais inflação (ex.: choques de preços, câmbio pressionado, incertezas fiscais).
- Cai quando os agentes veem menor inflação adiante (ex.: atividade desaquecendo, política monetária apertada, melhora fiscal).
- Além disso, oferta e demanda por títulos e prêmios de risco também mexem no número. Portanto, trata-se de um termômetro do mercado, não de bola de cristal.
Como usar na sua carteira
- Cenário base: se a implícita está em 5%, mas você imagina 6% para os próximos anos, reforce o IPCA+ (proteção do poder de compra).
- Aposta de desinflação: se você projeta 4%, pode aumentar Prefixado (trava uma taxa nominal que tende a ser vantajosa).
- Diversificação inteligente: como ninguém acerta sempre, combine IPCA+ e Prefixado em proporções que façam sentido para seus objetivos e sua tolerância a risco.
Para aprofundar e personalizar, veja também: Qual é a sua inflação pessoal?. A sua realidade de gastos pode ser diferente do IPCA “cheio”, e isso importa muito na hora de escolher os títulos.
Erros comuns na hora de usar a inflação implícita (e como evitar)
- Comparar prazos muito diferentes. Procure prazos próximos para a conta ser mais justa.
- Ignorar impostos e marcação a mercado. No curto prazo, os preços dos títulos oscilam; se precisar vender antes, pode realizar perdas mesmo com a tese certa.
- Tratar a implícita como “garantia”. É expectativa do mercado hoje; pode mudar amanhã. Use como referência, não como certeza.
Veja 6 razões para investir no Tesouro Direto em tempos de inflação e juros altos.
Perguntas rápidas
- Inflação implícita é a inflação oficial do IBGE?
Não. O IBGE mede a inflação passada (IPCA 12 meses, por exemplo). A implícita é a expectativa futura embutida nos preços dos títulos.
- Serve só para Tesouro Direto?
Ela nasce da comparação entre títulos públicos, mas o raciocínio ajuda a pensar toda a carteira, inclusive prazos de renda fixa privada e a alocação em renda variável.
- Muda todo dia?
Sim. Como as taxas dos títulos variam diariamente, a inflação implícita também oscila.
Inflação não é renda: cuidado para não confundir reposição com ganho
Inflação num investimento financeiro é a parte que repõe o poder de compra do seu dinheiro. Portanto, não deve ser considerada como renda disponível. Se o investidor usa a parte da inflação do rendimento como se fosse renda, ele está ficando mais pobre em termos de patrimônio real, porque está consumindo apenas a reposição do que os preços subiram.
Em outras palavras, a renda sustentável vem do juro real (o “acima da inflação”), não da inflação em si. Exemplo rápido: se um título paga IPCA + 5% ao ano e o IPCA foi 4%, o retorno nominal foi aprox. 9%. Desses 9%, 4% apenas repõem o que os preços subiram. O ganho efetivo é 5% (antes de impostos e custos). Gastar os 9% como renda é comer a reposição e reduzir seu poder de compra no futuro.
Agora a analogia da vaca: se você tem uma vaca, tente viver do leite. Se quiser comer carne, vai ter que matar a vaca. E aí, o que acontece? Você perde a capacidade de produção de leite para sempre. Com investimentos é parecido: viva dos juros reais (o leite) e preserve o principal (a vaca). Se você consome o principal, diminui a base que gera renda no futuro.


Por João Victorino
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais com ampla experiência no mundo corporativo, liderando unidades de negócios, equipes e transformado estratégia em prática por todas as empresas em que trabalhou. Liderou grandes negociações com instituições financeiras de grande porte, com impacto de bilhões de reais em faturamento e receita.
Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA – USP, professor de MBA do IBMEC, colunista da Investing.com, entre outras atividades.
Empreendeu em várias empresas como investidor, em paralelo com a vida executiva, e aprendeu com sucessos e fracassos nesse segmento.
Entendeu e aplicou a importância de ter equilíbrio financeiro ao longo de mais de 30 anos de investimentos em vários setores, com amplo sucesso. Fez 1 milhão de reais de patrimônio antes dos 30 anos de idade, e hoje divide esses aprendizados.
Para isso, criou e lidera a iniciativa A hora do dinheiro, com uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.